Para fazer a empresa prosperar, o empreendedor precisa saber
para onde quer ir e o que precisa mudar — nele e no negócio — para chegar lá.
Se você é empreendedor, já deve ter ouvido muitas vezes que
sonhar grande dá o mesmo trabalho do que sonhar pequeno. É verdade. Tudo começa
com a visão do empreendedor. Mas como transformar o sonho em realidade? Como
construir uma empresa que mantenha um ritmo de crescimento e inovação por
muitos anos? Muitas vezes, a aflição dos empreendedores está justamente nos
momentos em que eles sentem a necessidade de levar a empresa a um novo patamar.
Há um imenso esforço para começar um negócio e deixá-lo
redondo, mas, aos poucos, surge a necessidade de desbravar novos mercados,
inovar nos produtos ou conquistar clientes maiores. O empreendedor começa a
pensar se está pronto para dar um passo maior. Preciso de ajuda para crescer?
Quais recursos preciso mobilizar? Qual será o meu papel nessa transição? Minhas
funções na empresa precisam mudar? Certamente, ele precisará de fôlego para
fazer sua empresa subir mais alguns degraus. Mas com um bom plano e uma dose de
ousadia, dá para chegar lá.
Reconheça em qual
fase você está
Segundo Cassio Casseb, ex-presidente do Banco do Brasil e
hoje consultor e conselheiro de empresas, a primeira coisa que o empreendedor
precisa saber é em qual degrau do desenvolvimento sua empresa está. Algumas
pessoas confundem o que realmente têm nas mãos, enxergando na verdade o que
gostariam de ter.
Primeiro, o empreendedor tem uma ideia. Depois, ele monta um
negócio. Aí, há um terceiro momento em que ele tem uma empresa. É quando ele
cria estruturas, monta processos. Finalmente, pode virar uma empresa aberta. Em
cada uma dessas fases, as demandas são diferentes — e elas precisam estar bem
resolvidas para que o empreendedor alcance o nível seguinte.
Um livro chamado Growing Pains divide as companhias em
quatro estágios. Algumas companhias que dão muito certo nos primeiros estágios
acabam sucumbindo ao não enfrentar corretamente os desafios do estágio
seguinte. Por exemplo, inicialmente, para ser bem-sucedida a empresa precisa
definir qual demanda do mercado quer resolver, desenvolver um produto ou um
serviço útil e estar organizada para funcionar no dia a dia. No segundo
estágio, ela precisa se preparar para adquirir recursos e desenvolver sistemas
mais complexos.
A Apple, que nasceu em uma garagem para se tornar uma das
empresas mais valiosas do mundo, conseguiu superar a dor de crescimento em cada
estágio.
Um empreendedor para
cada momento
Além dos desafios que mudam para a empresa como um todo,
muda a rotina do empreendedor. A pessoa que monta uma startup, inicialmente,
faz de tudo um pouco: é a equipe de TI, vendas, RH e financeiro ao mesmo tempo.
Um outro livro, Grow to Greatness, fala sobre a evolução do empreendedor.
Conforme sua empresa muda de patamar, ele precisa aprender a delegar, a
confiar, a motivar e a ouvir.
Quem começa como executor passa a ser gestor, depois líder
e, finalmente, mentor. O especialista se torna um generalista, depois um
estrategista e, finalmente, condutor da cultura. O empreendedor precisa estar
atento para desapegar de algumas funções e assumir novos papeis conforme o
tempo passa e as necessidades do negócio mudam.
O papel do advisor
Um conselheiro pode ser interessante para acompanhar o
empreendedor em uma fase de crescimento porque, como uma pessoa experiente, já
viveu situações parecidas. Ele ajuda a enxergar o que é causa e o que é
consequência e ajuda a buscar os melhores caminhos. Além disso, pode abrir
portas para novos clientes e novos mercados. O empreendedor só não pode esperar
que ele dê palpite sobre tudo, afinal deve ser chamado por entender de uma área
ou de uma situação específica. Para encontrar um conselheiro, acione sua rede
de contatos ou, se você já tem uma pessoa em mente, vá atrás dela. É importante
que o empreendedor e o advisor tenham afinidade para construir uma relação
interessante.
Crescimento não se
faz só com dinheiro
Quando o empreendedor quer dar um novo salto, é muito comum
que ele comece a pensar em como captar dinheiro para crescer. Ele logo pensa
nos fundos de private equity com quem possa negociar. A questão é que dinheiro
não é a solução para tudo. Pode ser que o fator escasso na empresa seja outro.
Casseb afirma que teve contato com muitos empreendedores
que, para crescer, planejam redefinir seu público-alvo, alterar seu produto,
mudar o canal de distribuição ou melhorar a qualidade dos funcionários. “Nem
todas essas iniciativas exigem um alto investimento financeiro. Se o fator
escasso da sua empresa é mercado, por exemplo, provavelmente você precisa mexer
no seu produto ou questionar seu canal de vendas”, diz.
É POSSÍVEL USAR OS RECURSOS JÁ EXISTENTES E DIRECIONÁ-LOS
PARA UMA NOVA ESTRATÉGIA.
Ele usa como exemplo a situação vivida pelo Brasil nas
décadas de 1980 e 1990. O país tentava mostrar aos investidores estrangeiros
que não era pior do que o México ou a Argentina. Era difícil e todo mundo dizia
que faltava dinheiro no país. Mas o que faltava não era dinheiro: era um
projeto ou um bom operador. Todas as vezes em que o Brasil teve um projeto bom
com um bom operador, o dinheiro apareceu.
O mapa da mina
Quando o empreendedor começa a visualizar uma mudança de
degrau, ele precisa traçar um plano de ação muito claro. Assim, fica mais fácil
visualizar quais são realmente os fatores escassos. Uma vez que as tarefas
tangíveis para atingir o objetivo estiverem estabelecidas e quando elas puderem
ser mensuradas, é preciso delegar donos e datas para cada uma delas. Mudanças
de patamar são momentos saudáveis e podem ser prazerosos. O empreendedor
precisa encarar de forma positiva, mas ao mesmo tempo entender todos os
detalhes antes de tomar qualquer decisão.
Existe momento certo?
Não existe uma receita de bolo para saber qual é o momento
certo para pensar no crescimento da empresa. Casseb usa a metáfora de um
incêndio. Quando o fogo se espalha, o certo é apontar a mangueira para a base
do fogo e não para a fumaça ou para as labaredas. Mas se a sua calça estiver pegando
fogo, é melhor apontar a mangueira temporariamente para o esse foco isolado.
Crescimento de empresa é mais ou menos isso. Quando o empreendedor está
trabalhando para sobreviver, não há muito como pensar nos grandes planos. Há
momentos em que a prioridade é sobreviver, mas há momentos em que ele precisa
se permitir olhar para onde está indo.
O que acontece é que muitas empresas param na primeira
etapa. Se aparecer um problema em alguma área da sua empresa, depois de apagar
o incêndio, verifique se há alguma mudança importante a ser feita para evitar
que aconteça de novo. Quando os problemas param de se repetir, o empreendedor
ganha fôlego para pensar estrategicamente em seu próximo passo. Empreender é
como uma corrida de obstáculos.
SE VOCÊ EMPILHAR TODOS OS DESAFIOS A MONTANHA FICA
INTRANSPONÍVEL, MAS SE VOCÊ PRIORIZAR, VIRA UMA CORRIDA COM BARREIRAS.
Ousadia X Cautela
“Em minha experiência profissional, vi mais empresas
quebrando quando iam bem do que quando iam mal”, afirma Casseb. Isso porque, na
empolgação, elas acabam dando um passo maior que a perna. Ou, como queria Bart
Simpson, saltam o Grand Canyon de skate. A ambição e a confiança são ótimas
qualidades dos empreendedores. Mas se exagerarem, podem perder o foco. É
preciso entender qual passo é possível dar. As pessoas conservadoras demais
podem não crescer, e as audaciosas demais podem quebrar. No meio desses
extremos, há várias possibilidades.
Casseb atendeu certa vez um empresário que queria um
diagnóstico. Sua empresa era melhor que as concorrentes e ninguém prestava o
serviço tão bem quanto ela. Já tinham se passado 20 anos e o negócio continuava
pequeno. Depois de dois dias na empresa, revelou sua conclusão: faltava
coragem. O dono da empresa tinha medo de ficar sem trabalho e acabava cobrando
menos do que poderia para os clientes, o que lhe dava uma margem baixíssima.
Quando vinha uma segunda proposta, ele ficava com receio de não prestar o
serviço corretamente para mais de um cliente ao mesmo tempo. A recomendação foi
que ele confiasse mais em si mesmo e nas pessoas que havia treinado. Sua
mentalidade mudou e ele começou a ousar mais. No primeiro ano, a empresa
cresceu 40% e a margem cresceu 80%.
Mude ou morra
Nem sempre o que levou a empresa a um patamar é o mesmo
serviço ou produto que vai levá-la ao próximo. Quanto espaço seu produto tem
para crescer? O que dá para aproveitar do seu conhecimento em outros projetos?
O empreendedor deve sempre buscar enxergar sua área de atuação como um todo.
Imagine-se pegando um helicóptero e olhando o mercado de cima. Onde estão as
grandes tendências? No mundo de hoje, se a empresa perder a ambição, morre. Se
você quer uma empresa perene, tem que estar fora de zona de conforto o tempo
todo, olhando para o futuro sempre.
Na década de 1980, a maior fábrica de régua de cálculo do
mundo chamava Aristo. A régua de cálculo era usada para fazer contas complexas,
extremamente útil na engenharia. A Aristo gastava dinheiro em pesquisas para
sofisticar a régua de cálculo. Acontece que definiu errado. Ela não tinha que
estar olhando para a régua de cálculo, e sim para o cálculo. Quando inventaram
as calculadoras mais sofisticadas, a empresa quebrou em três anos.
Pessoa física X
pessoa jurídica
Claro que o que vale para a empresa nem sempre vale para a
pessoa física. A escala de valores do ser humano muda e nem sempre o
empreendedor está mais disposto a arriscar tanto, a se expor e a fazer grandes
mudanças. Os propósitos na vida do empreendedor podem, em algum momento, não
estar mais alinhados com a dedicação que a empresa exige dele.
A BUSCA DA ORGANIZAÇÃO É PELO CRESCIMENTO E AUMENTO DO
LUCRO, MAS NEM SEMPRE ESSE OBJETIVO TEM A VER COM O DO DONO: AO CONTRÁRIO DOS
NEGÓCIOS, ELE PODE SER MENOS FELIZ SENDO MAIS RICO. É PRECISO SER SINCERO
CONSIGO MESMO SOBRE A REAL DISPOSIÇÃO PARA TOCAR E NUTRIR UM NEGÓCIO.
Extraído do site Endeavor: https://endeavor.org.br/como-crescer-junto-empresa/